Por: Carol Meneses
A mídia, com seu papel de informar( o que
significa não apenas relatar fatos, mas também “formar a mente”, como já dizia
Briggs, 2004), tem o poder de engrandecer um esporte, ou mitificar um atleta
através do seu poder de persuasão. Isso pode ser , claramente, percebido com o
crescimento das artes marciais mistas( MMA), no Brasil.
O MMA, na época conhecido como VALE TUDO, foi
criado, no Brasil, por lutadores de artes marciais para descobrir qual era a
arte marcial mais poderosa, e por não existir profissionalismo e conter
bastante confusão e seus “gladiadores” era visto com maus olhos perante não
somente à sociedade, como também à imprensa. Com o tempo o VALE TUDO
foi tomando ares de esporte, ficando organizado e regularizado e com menos brigas
de ruas, e com isso se tornou popular no exterior, principalmente no Japão com
o extinto PRIDE( que foi o primeiro evento de MMA que equilibrou entretenimento
negócio e esporte de alto desempenho), porém não perdeu a má fama em seu país.
Os lutadores eram bastante respeitados e
exaltados, pela semelhança com os samurais, esse foi o caso dos brasileiros
Vitor Belfort, Anderson Silva, Maurício Shogun, Ricardo Arona, Paulo Filho,
entre outros. Ou seja, eram ídolos no Japão e no exterior, porém desvalorizados
no Brasil.
No
início de 1993,o brasileiro, lutador e professor de Jiu Jitsu nos EUA, Rorion
Gracie teve a ideia de criar um evento de Vale Tudo nos EUA,o War of the
Worlds, ou WOW, e escolheu, junto com o publicitário californiano Art Davie, o
Colorado por ser um dos 6 estados que permitiam a realização de um combate sem
luvas, e por ser dentre eles o mais central e liberal. Após a escolha do local,
a dúvida era qual seria o palco para as lutas, e com a ajuda de John Millus,
escolheu o modelo com um formato de octógono que impediria que o lutador
ficasse preso no corner e que assim a luta não fosse interrompida a qualquer
momento, como ocorria no boxe.
E no dia 12 de novembro de 1993, o
apresentador do evento acabou errando o nome do evento, e o chamou de “ The
Ultimate Figthing Challange”, e assim nasceu o que se tornaria maior evento de
MMA do mundo. Com o decorrer do tempo,
os sócios de Rorion começaram a exigir algumas mudanças no evento, como a estipulação de tempo para cada
round. Essa mudança ocorreu no UFC 4, porém Rorion não concordou com esse novo
UFC e bateu de frente com seus sócios, que não aceitaram a decisão de voltar ao
padrão dos primeiros eventos, sem limite de tempo, e o brasileiro teve que
vender sua parte. Pouco tempo depois, Royce Gracie, irmão de Rorion e primeiro campeão do UFC, se
afasta do MMA.
O UFC 6, o primeiro sem os Gracie, e na
época em que a cobertura jornalística no Brasil era restrita apenas a TATAME( revista
voltada para cobrir matérias sobre o Jiu Jitsu, foi transmitido, em videoteipe,
pelo recém-criado SporTV, e trazendo um pouco de popularidade. Essa
popularidade não foi maior, pois a imprensa brasileira apesar de registrar o
protagonismo nacional em vez de investir no esporte, continuava enfatizando a violência
do mesmo.
Os profissionais desse esporte passaram a
buscar um treinamento em diversas modalidades e não apenas em uma, o que resultou
no MMA como é conhecido hoje em dia e com essa junção de variadas artes
marciais, tiveram que unificar algumas regras de cada uma, outro ponto
importante para a valorização ainda maior do esporte, foi a venda do UFC para a
empresa Zuffa, que tem como sócios os irmãos Lorenzo e Frank Fertitta e o
promotor de Boxe Dana White, e com essa venda
surgiu a criação de um reality show, em 2005,chamado “The Ultimate
Fighter” que revela lutadores que
ganharão a chance de atuar nos octógonos do UFC. O UFC, na época ainda dividia a atenção dos
amantes do esporte com o PRIDE FC, porém devido a comentários relacionando o
evento de MMA à Mafia Japonesa (Yakuza) o PRIDE foi perdendo seu espaço até ser
vendido para a ZUFFA, em março de 2007. A ideia inicial era manter ambos os
eventos, porém com a transferência
Com o
sucesso que o esporte alcançou internacionalmente, a REDE TV passou a
transmitir as lutas e assim ganhou bastante audiência, a Rede Globo, percebendo isso comprou, com
exclusividade, os direitos do UFC, muitas vezes a transmissão desta emissora
foi criticada pelos internautas por
anunciar como ao vivo mesmo não sendo, e também lançou a primeira edição do The
Ultimate Fighter Brasil- TUF Brasil, em 13 de dezembro de 2011, o que aumentou,
e muito, a popularidade do esporte no Brasil, tanto que além de fazer algumas
edições do UFC no Brasil, aumentou o número de eventos de MMA nacional, como o
Jungle Fight, WOCS, Shotto, entre outros, e ainda aumentou o número de pessoas
em academias que buscam não apenas artes marciais separadas, como também as
artes marciais mistas, seja com objetivo de se tornar um profissional do
esporte, como para ter uma vida mais saudável. Pensando nesse último motivo as
mulheres passaram a treinar esse esporte, e algumas acabaram se apaixonando
tanto, que decidiram optar também pelo lado profissional. O que não era bem
visto pelos donos de eventos, até que, com o apoio da mídia, por acharem
atraente para os homens, pela beleza das lutadoras, ao mesmo tempo em que
atraem as mulheres, que já não querem mais aquele paradigma de que mulher é
sexo frágil.
Duas guerreiras do MMA feminino. |
Um ponto que favorece a ambos, é a
propaganda, isso porque a mídia mostra aos espectadores os atletas, os
materiais esportivos (roupas, equipamentos, etc.), uma academia de lutas, e em
troca os mesmos pagam um valor determinado por um certo período de tempo.
Porém, essa relação, assim como em um
romance, também possui altos e baixos, isso pode ser percebido no esporte quando vários lutadores reclamam da data de validade
de um atleta, ou seja, antes era valorizado e considerado herói e depois acaba sendo criticado como se não
fosse um nada, como se tudo o que ele já fez pela história do esporte fosse
apagado, outro ponto fraco para o esporte, é a
perda do equilíbrio, em alguns eventos, que valorizam mais a parte do entretenimento (do show) do que a do
esporte, devido a busca pela audiência. Já na parte da mídia, a mesma precisa
mudar toda sua grade de horário para atender as necessidades do evento, ou
então transmite depois e é criticada pelo atraso.
É possível concluir que os pontos fortes
dessa relação superam os fracos, e que não existe nenhum “vilão” ou “mocinho”
nessa história, o MMA necessita da mídia assim como a mídia precisa do MMA, ou
seja eles se completam, se favorecem mutuamente. Se o MMA não tivesse o apoio
da mídia, ele não seria nem metade do que é hoje, isso já foi provado no
passado na época que o vale tudo era considerado violento e não era divulgado
pela mídia brasileira, e assim os atletas não eram valorizados ganhavam pouco,
além de correrem riscos em eventos “piratas”, e o esporte não cresceria, assim
como a mídia na época não tinha a oportunidade de conhecer o esporte
maravilhoso que é o MMA, a força de uma pessoa atrás de um sonho, e nem veria o
grande aumento de projetos sociais envolvendo MMA e outras artes marciais com o objetivo de
tirar as crianças de comunidades carentes do mundo do crime e das drogas, ou
essa busca pelas artes marciais em academias seja pela saúde ou para se
defender. O que não pode acontecer é perder o equilíbrio entre o espetáculo, o
entretenimento e o esporte de alto desempenho, seja no evento em si, ou no
atleta.
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