quinta-feira, 10 de março de 2016

Mídia X Artes Marciais Mistas: As Indas e Vindas dessa relação

                                                                                                                 Por: Carol Meneses
  

  
   A mídia, com seu papel de informar( o que significa não apenas relatar fatos, mas também “formar a mente”, como já dizia Briggs, 2004), tem o poder de engrandecer um esporte, ou mitificar um atleta através do seu poder de persuasão. Isso pode ser , claramente, percebido com o crescimento das artes marciais mistas( MMA), no Brasil.
   O MMA, na época conhecido como VALE TUDO, foi criado, no Brasil, por lutadores de artes marciais para descobrir qual era a arte marcial mais poderosa, e por não existir profissionalismo e conter bastante confusão e seus “gladiadores” era visto com maus olhos perante não somente à sociedade, como também à imprensa. Com o tempo o  VALE TUDO  foi tomando ares de esporte, ficando  organizado e regularizado e com menos brigas de ruas, e com isso se tornou popular no exterior, principalmente no Japão com o extinto PRIDE( que foi o primeiro evento de MMA que equilibrou entretenimento negócio e esporte de alto desempenho), porém não perdeu a má fama em seu país. Os  lutadores eram bastante respeitados e exaltados, pela semelhança com os samurais, esse foi o caso dos brasileiros Vitor Belfort, Anderson Silva, Maurício Shogun, Ricardo Arona, Paulo Filho, entre outros. Ou seja, eram ídolos no Japão e no exterior, porém desvalorizados no Brasil.
  No início de 1993,o brasileiro, lutador e professor de Jiu Jitsu nos EUA, Rorion Gracie teve a ideia de criar um evento de Vale Tudo nos EUA,o War of the Worlds, ou WOW, e escolheu, junto com o publicitário californiano Art Davie, o Colorado por ser um dos 6 estados que permitiam a realização de um combate sem luvas, e por ser dentre eles o mais central e liberal. Após a escolha do local, a dúvida era qual seria o palco para as lutas, e com a ajuda de John Millus, escolheu o modelo com um formato de octógono que impediria que o lutador ficasse preso no corner e que assim a luta não fosse interrompida a qualquer momento, como ocorria no boxe.
   E no dia 12 de novembro de 1993, o apresentador do evento acabou errando o nome do evento, e o chamou de “ The Ultimate Figthing Challange”, e assim nasceu o que se tornaria maior evento de MMA do mundo. Com o decorrer do tempo,  os sócios de Rorion começaram a exigir algumas mudanças no  evento, como a estipulação de tempo para cada round. Essa mudança ocorreu no UFC 4, porém Rorion não concordou com esse novo UFC e bateu de frente com seus sócios, que não aceitaram a decisão de voltar ao padrão dos primeiros eventos, sem limite de tempo, e o brasileiro teve que vender sua parte. Pouco tempo depois, Royce Gracie,  irmão de Rorion e primeiro campeão do UFC, se afasta do MMA.
   O UFC 6, o primeiro sem os Gracie, e na época em que a cobertura jornalística no Brasil era restrita apenas a TATAME( revista voltada para cobrir matérias sobre o Jiu Jitsu, foi transmitido, em videoteipe, pelo recém-criado SporTV, e trazendo um pouco de popularidade. Essa popularidade não foi maior, pois a imprensa brasileira apesar de registrar o protagonismo nacional em vez de investir no esporte, continuava enfatizando a violência do mesmo.
   Os profissionais desse esporte passaram a buscar um treinamento em diversas modalidades e não apenas em uma, o que resultou no MMA como é conhecido hoje em dia e com essa junção de variadas artes marciais, tiveram que unificar algumas regras de cada uma, outro ponto importante para a valorização ainda maior do esporte, foi a venda do UFC para a empresa Zuffa, que tem como sócios os irmãos Lorenzo e Frank Fertitta e o promotor de Boxe Dana White, e com essa venda  surgiu a criação de um reality show, em 2005,chamado “The Ultimate Fighter”  que revela lutadores que ganharão a chance de atuar nos octógonos do UFC.  O UFC, na época ainda dividia a atenção dos amantes do esporte com o PRIDE FC, porém devido a comentários relacionando o evento de MMA à Mafia Japonesa (Yakuza) o PRIDE foi perdendo seu espaço até ser vendido para a ZUFFA, em março de 2007. A ideia inicial era manter ambos os eventos, porém com a transferência 
   Com o sucesso que o esporte alcançou internacionalmente, a REDE TV passou a transmitir as lutas e assim ganhou bastante audiência, a  Rede Globo, percebendo isso comprou, com exclusividade, os direitos do UFC, muitas vezes a transmissão desta emissora foi  criticada pelos internautas por anunciar como ao vivo mesmo não sendo, e também lançou a primeira edição do The Ultimate Fighter Brasil- TUF Brasil, em 13 de dezembro de 2011, o que aumentou, e muito, a popularidade do esporte no Brasil, tanto que além de fazer algumas edições do UFC no Brasil, aumentou o número de eventos de MMA nacional, como o Jungle Fight, WOCS, Shotto, entre outros, e ainda aumentou o número de pessoas em academias que buscam não apenas artes marciais separadas, como também as artes marciais mistas, seja com objetivo de se tornar um profissional do esporte, como para ter uma vida mais saudável. Pensando nesse último motivo as mulheres passaram a treinar esse esporte, e algumas acabaram se apaixonando tanto, que decidiram optar também pelo lado profissional. O que não era bem visto pelos donos de eventos, até que, com o apoio da mídia, por acharem atraente para os homens, pela beleza das lutadoras, ao mesmo tempo em que atraem as mulheres, que já não querem mais aquele paradigma de que mulher é sexo frágil.
Duas guerreiras do MMA feminino.
  Muitos atletas foram criados pela mídia,  seja com base na história de vida de cada um como até mesmo pela beleza. Anderson Silva, os irmãos Nogueira( Minotauro e Minotouro), Ronda Rousey foram alguns dos considerados queridinhos da mídia.Mas se engana quem acha que essa relação foi proveitosa  somente ao MMA, essa influência da imprensa também favoreceu a  própria mídia, isso porque aumentaram os meios de comunicação falando sobre o assunto. É possível encontrar na internet vários sites, blogs e portais falando sobre esse assunto, assim como nos jornais e na televisão, essa última ainda aproveitou o esporte para colocar em suas tramas de novela, como aconteceu na novela Fina Estampa, em que o ator Dudu Azevedo dava vida ao lutador de MMA Wallace Mu, e contou com a participação de lutadores como Anderson Silva, Irmãos Nogueira e o ex PRIDE Ricardo Arona, este último ainda foi o árbitro da luta final da novela. Outra trama global, que trouxe as artes marciais para dentro das telinhas, foi a Malhação Sonhos, que contava a história de dois grupos rivais de lutadores e de uma escola de artes cénicas, músicas e canto, o que trouxe muitos praticantes e apaixonados por artes marciais a acompanhar novelas.
   Um ponto que favorece a ambos, é a propaganda, isso porque a mídia mostra aos espectadores os atletas, os materiais esportivos (roupas, equipamentos, etc.), uma academia de lutas, e em troca os mesmos pagam um valor determinado por um certo período de tempo.
  Porém, essa relação, assim como em um romance, também possui altos e baixos, isso pode ser percebido  no esporte quando  vários lutadores reclamam da data de validade de um atleta, ou seja, antes era valorizado e considerado herói  e depois acaba sendo criticado como se não fosse um nada, como se tudo o que ele já fez pela história do esporte fosse apagado, outro ponto fraco para o esporte, é a  perda do equilíbrio, em alguns eventos, que valorizam mais a parte  do entretenimento (do show) do que a do esporte, devido a busca pela audiência. Já na parte da mídia, a mesma precisa mudar toda sua grade de horário para atender as necessidades do evento, ou então transmite depois e é criticada pelo atraso.

   É possível concluir que os pontos fortes dessa relação superam os fracos, e que não existe nenhum “vilão” ou “mocinho” nessa história, o MMA necessita da mídia assim como a mídia precisa do MMA, ou seja eles se completam, se favorecem mutuamente. Se o MMA não tivesse o apoio da mídia, ele não seria nem metade do que é hoje, isso já foi provado no passado na época que o vale tudo era considerado violento e não era divulgado pela mídia brasileira, e assim os atletas não eram valorizados ganhavam pouco, além de correrem riscos em eventos “piratas”, e o esporte não cresceria, assim como a mídia na época não tinha a oportunidade de conhecer o esporte maravilhoso que é o MMA, a força de uma pessoa atrás de um sonho, e nem veria o grande aumento de projetos sociais envolvendo MMA  e outras artes marciais com o objetivo de tirar as crianças de comunidades carentes do mundo do crime e das drogas, ou essa busca pelas artes marciais em academias seja pela saúde ou para se defender. O que não pode acontecer é perder o equilíbrio entre o espetáculo, o entretenimento e o esporte de alto desempenho, seja no evento em si, ou no atleta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário